Dermatologia multirracial




27 de janeiro de 2020 0

JSBD – Ano 23 – N.06 – 01 – DEZEMBRO-FEVEREIRO

Dra. Ivonise
Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia |
Mestre e doutora em Dermatologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Em 2018, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que cerca de 19 milhões de brasileiros se declaravam negros no país, um número pequeno se considerarmos que a população brasileira ultrapassa 210 milhões de pessoas. Mesmo sendo menos expressivo do que se imaginava, esse número foi 32,2% maior em relação à mesma pesquisa realizada em 2012. O aumento de pessoas que se declararam negras mostra que, de certa forma, políticas afirmativas sobre cor e raça têm desempenhado papel importante na conquista de espaço na sociedade. Ainda há, porém, um longo caminho a percorrer em diferentes campos, a medicina incluída.
 
As faculdades de medicina, em sua maioria, ainda hoje não abordam as diferenças de cor e etnia. Isso pode ser atribuído à pequena proporção de alunos negros nos cursos médicos. De algum tempo para cá, entretanto, até pelo fato de mais estudantes negros estarem chegando aos cursos de formação, a especialização nas particularidades da pele negra tem chamado a atenção de profissionais da área, especialmente devido à demanda da população em busca de tratamentos.

 

Tratamentos
Não há exatamente um tratamento dermatológico exclusivo para a pele negra. Ao se deparar com uma pele doente, caberá ao especialista avaliar se a cor e a quantidade de melanina podem ou não influenciar a aparência da lesão ou aspectos específicos do tratamento. “A miscigenação é muito grande no Brasil, e a cor da pele não é um bom indicativo de etnia ou de genética de origem africana. Por isso, aliás, muitas vezes há o aparecimento de dermatoses ditas da pele negra em pessoa de cor branca”, explica Ivonise Follador, médica dermatologista da SBD e mestre e doutora pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
 
Embora a expressão “especialista em pele negra” não seja tão bem aceita pela classe médica – especialmente no Brasil, cuja população é tão miscigenada –, é preciso entender que mesmo com doenças iguais, os tratamentos indicados para pacientes com pele negra ou branca podem ser diferenciados. De acordo com Ivonise Follador,  enfermidades que levam a discromias, por exemplo, na pele negra ou miscigenada assumem frequentemente aspectos diferentes daqueles que mostram em pessoas de  pele branca. “No caso de vitiligo, o contraste é maior, chamando muita a atenção e causando impacto maior. Por outro lado, como tem mais melanina nas bordas, as repostas ao tratamento costumam ser mais rápidas e melhores. No caso do melasma, o contraste não é tão grande, mas é muito mais difícil de tratar. Na psoríase não se encontram tantos eritemas e as lesões podem assumir aspecto mais escuro, violáceo ou esbranquiçado”, detalha a médica, lembrando, porém, que muitas das alterações de manchas escuras na pele negra, como escurecimento peribucal, em mucosas e ao redor de unhas, são consideradas normais ou fisiológicas pela dermatologia.
 
Ainda sobre as especificidades das dermatoses na pele negra, Ivonise afirma que há muitos diagnósticos complexos, como a micose fungoide hipocromiante, que é mais comum em afrodescendente e que muitos médicos ainda diagnosticam como desidratação da pele ou eczematide. “Poderíamos falar também de algumas dermatoses um pouco mais frequentes em negros, como a dermatose papulosa negra, a hipercromia pós-inflamatória, os queloides, as úlceras de anemia falciforme, a pseudoacantose nigricante e a foliculite queiloidiana da nuca. E os especialistas devem ficar atentos também à idade desse paciente negro, já que na fase mais avançada da vida costuma-se ter a pele mais espessa e seca, bem como dificuldades na produção de vitamina D, além de tendência a manchas e queloides. “Esses aspectos devem ser muito bem observados e cuidados com especificidade”, esclarece a dermatologista.
 

Beleza
Importante destacar que os valores e as noções de beleza definidos pela estética branca dominante estão sendo questionados mais do que nunca pela sociedade. No contexto da medicina, muitas pessoas negras que procuram tratamentos estéticos com médicos dermatologistas não buscam simplesmente afinar traços ou clarear a pele como forma de imitação da beleza branca. Ao contrário: estão procurando alternativas saudáveis de beleza, que, segundo a intelectual negra e teórica feminista Bell Hooks, “pode ser encontrada em qualquer forma de negritude que não é uma imitação de branquitude”. Cada etnia possui características próprias e tem a sua beleza. “E cabe a nós, médicos, escutar o que aquele paciente tem a dizer e prescrever procedimentos adequados e que, acima de tudo, respeitem a história de cada um”, frisa a médica Ivonise Follador.

 


27 de janeiro de 2020 0

JSBD – Ano 23 – N.06 – 01 – DEZEMBRO-FEVEREIRO

A 42ª edição do Simpósio de Dermatologia Tropical (DermaTrop) da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) será realizada nos dias 29 e 30 de maio, em Belém do Pará. No evento, experts da dermatologia do país vão abordar atualizações sobre doenças infecciosas e de caráter endêmico, como a hanseníase, DST/Aids, leishmaniose e tuberculose, entre outras. A programação científica já está disponível no site da SBD, e o primeiro período de inscrições vai até o dia 17 de maio. O encontro conta com o apoio da SBD-PA, presidida por Walter Refkalefsky Loureiro.

 


27 de janeiro de 2020 0

JSBD – Ano 23 – N.06 – 01 – DEZEMBRO-FEVEREIRO

Janeiro é o mês dedicado à conscientização, combate e prevenção da hanseníase. E a SBD aproveitou este momento para divulgar informações sobre a doença, que, por diferentes motivos, ainda hoje representa um problema de saúde pública no Brasil. Este ano, a campanha de esclarecimento coordenada pela médica dermatologista Sandra Durães destacou o que é mito e o que é verdade sobre a hanseníase por meio de vídeo informativo e de fácil compreensão disponibilizado no site institucional. Dermatologistas da SBD também abordaram o tema em matérias publicadas em diversos meios de comunicação do país.

Assista ao vídeo:

O Jornal da SBD conversou com a médica Sandra Durães sobre a importância da conscientização das pessoas sobre essa doença tropical negligenciada. Também quis saber sua opinião sobre a abordagem da hanseníase na campanha deste ano que esclarece o que é mito e o que é verdade na abordagem da doença.

“Crenças populares ainda predominam sobre a enfermidade, que continua suscitando muito preconceito pela sua imagem negativa, de doença estigmatizante e causadora de incapacidades físicas. No entanto, essa imagem não corresponde mais à atual realidade da hanseníase, para a qual existe uma terapêutica mais eficaz, o que a tornou doença curável. Aproveitar este jargão “mitos x verdades” para desmitificar ideias falsas é uma estratégia atual de comunicação rápida para esclarecer e informar a população”, explica.

A hanseníase é uma infecção curável e, na maioria dos casos, com bom prognóstico, que, no entanto, está ligado ao tempo de evolução da doença, já que com o passar dos anos as chances de danos neurais aumentam. E esses danos são irreversíveis. “A estratégia básica para seu controle é a diminuição da carga bacilar da população com o tratamento de todos os casos. Portanto, é muito importante que a população seja informada sobre os principais sinais e sintomas da doença e procure assistência médica o mais rápido possível, e a campanha do Janeiro Roxo tem um papel importante nessa ação”, frisa Sandra Durães.

A médica afirma que a fim de alcançar o controle da doença, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS) promoveram a integração da atenção à pessoa acometida por hanseníase na rede de atenção primária à saúde, ampliando a cobertura dos atendimentos de hanseníase.

“Atualmente cerca de 70 % dos casos são diagnosticados na atenção primária. Durante esse processo a colaboração dos médicos dermatologistas da SBD, que possuem acurácia mais desenvolvida para o diagnóstico das lesões cutâneas, foi fundamental no treinamento desses profissionais para o diagnóstico precoce. No entanto, a alta rotatividade das equipes treinadas na atenção primária gera a necessidade contínua de novos treinamentos”, explica.

Sandra Durães informa que este ano haverá um aumento dessas ações por meio de parceria da SBD com o Ministério da Saúde para a realização de campanhas visando ao diagnóstico precoce e à capacitação dos profissionais da rede básica de saúde nas áreas endêmicas. A intenção é oferecer um atendimento integral aos pacientes.

“Após o diagnóstico, além da antibioticoterapia e das orientações para prevenção de incapacidades, os pacientes terão acesso ao atendimento especializado por médicos neurologistas, neurocirurgiões, oftalmologistas, ortopedistas, além de psicólogos. Haverá ainda uma rede adequada de referência e contrarreferência para casos de difícil diagnóstico diferencial, efeitos adversos dos medicamentos e reações hansênicas, essenciais para o atendimento completo. Além dessas ações são fundamentais outras formas de controle, como o exame dos contactantes dos pacientes e aplicação da vacina BCG”, complementa.

Cabe frisar que para o controle efetivo da hanseníase, além dessas importantes ações que envolvem ampliação de cobertura para atendimentos e treinamento de equipes de saúde, é preciso pensar também nos determinantes sociais da doença.

 


27 de janeiro de 2020 0

JSBD – Ano 23 – N.06 – 01 – DEZEMBRO-FEVEREIRO

Irritação, queimadura, descamação, queda de cabelo e até câncer. Esses são alguns dos inúmeros problemas ocasionados pelo uso do formol e de substâncias que podem liberá-lo em procedimentos estéticos capilares. O alerta é da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) preocupada com a exposição indevida de milhares de pessoas ao produto. Atraídos por falsas promessas e ludibriados pela ocultação de dados importantes sobre os procedimentos, não são incomuns casos de efeitos adversos decorrentes de um alisamento, por exemplo. Há situações em que os desdobramentos podem ser graves. 

Para melhor orientar a população sobre o assunto, a SBD lançou uma cartilha onde detalha riscos da exposição ao formol, como identificar produtos que o contenham em sua composição e como denunciar irregularidades. “Nesse período de festas, mulheres de todas as idades e homens recorrem aos salões de beleza ou clínicas de estética em busca de uma imagem idealizada. Nesse momento, adentram uma zona cinzenta, onde são convidados a testar na pele e no couro cabeludo técnicas e produtos de origem desconhecida ou formalmente proibidos”, ressaltou o presidente da SBD, Sergio Palma.

Acesse aqui a cartilha elaborada pela SBD sobre os riscos do formol

Apesar dos riscos, o formol continua sendo utilizado de forma irregular em salões de beleza. Já foram encontrados traços da substância em vários procedimentos, como as chamadas escovas inteligente, marroquina, egípcia, de chocolate, selagem, botox capilar etc. Outro aspecto importante citado pela SBD e a inadequação de uso de alisantes com formol por gestantes e mulheres que amamentam. Também não se recomenda sua aplicação em crianças. 

Proibição – Desde junho de 2009, a Resolução RDC nº 36, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), proibiu a venda do formol em drogarias, farmácias, supermercados e lojas de conveniência. Essa Resolução visa restringir o acesso da população ao produto, coibindo o desvio do seu uso, como alisante capilar, com o intuito de proteger a saúde tanto de profissionais cabeleireiros quanto dos consumidores. A legislação atual permite 0,2% do formol na composição de cosméticos, incluindo os alisantes. Segundo a Anvisa, neste percentual, o formol somente conserva, não tendo potencial para alisar os cabelos. A Agência diz ainda que o produto também é permitido para endurecedores de unhas na concentração de 5%. 

A Anvisa salienta que qualquer adição de formol em produtos já prontos é crime – previsto na Lei nº 6.437, de 20 de agosto de 1977 – e que tal prática acarreta graves riscos à saúde da população. A aplicação do formol somente é permitida durante a fabricação do produto, na devida proporção, com a função de conservante, de acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 162. Já a de nº 58/2009 elenca as substâncias de ação conservante permitidas para produtos de limpeza, mantendo o formol fora da listagem.

Cancerígeno – Em 2004, a Organização Mundial da Saúde (OMS) relacionou o formol ao aparecimento de tumores no nariz, na boca, na faringe, na laringe e na traqueia. No mesmo ano, mediante o alerta da OMS e de outras instituições internacionais de pesquisa, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) classificou o formol como um agente cancerígeno.

“Se o formol for inalado, pode provocar efeitos colaterais agudos como, falta de ar, tosse, dor de cabeça, além de provocar ardência nas vias respiratórias. Em longo prazo, outras complicações podem aparecer, como o câncer de nariz, boca, laringe e também hematológicos, como a leucemia, sendo que os profissionais que trabalham diariamente com o produto estão mais propícios a esses problemas”, alerta o coordenador do Departamento de Cabelos da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) Regional Rio de Janeiro, Rodrigo Pirmez.

Novos alisantes – Os ativos para alisantes permitidos no Brasil estão descritos nas Resoluções RDC nº 3/2012 e 15/2013 (veja a tabela I). Em 2018, a Anvisa incorporou novas substâncias. Contudo, durante a avaliação de segurança dos ativos “Ácido Glioxílico” e “Glioxiloil de Proteína de Trigo Hidrolisada e Sericina” foi observada a necessidade de encaminhamento de mais dados para comprovar a inexistência de riscos à saúde. 

Por isso, outros ativos inicialmente liberados – como “Cisteamina HCL”, “Cisteína HCL” e “Glioxiloil de Aminoácidos da Queratina e Carbocisteína” – novamente entraram em suspeição e não estão sendo mais aprovados registros de alisantes com essas substâncias.

Em nota, a Agência informou à SBD que a documentação faltante já foi solicitada às empresas e, após o fim da análise, será decidido se os novos ativos vão continuar sendo permitidos. A Anvisa disse ainda que o até então permitido “Pirogalol” também está sendo reavaliado para verificar sua segurança.

Conforme destaca Leonardo Spagnol Abraham, coordenador do Departamento de Cabelos e Unhas da SBD, a entidade observa com preocupação e atenção esses novos alisantes. “Material divulgado pelo Inca e testes amplamente noticiados na mídia sugerem que estas novas substâncias podem liberar formol quando aquecidas, no momento em que é feita a escova ou chapinha. A Anvisa registrou e liberou em um primeiro momento, porém agora solicitou novos estudos. Neste período de incerteza, sabendo que nenhuma outra agência reguladora no mundo libera estes produtos, é importante cautela no uso. Aguardamos novas evidências científicas, principalmente sobre o efeito em gestantes, crianças e mulheres que estão amamentando”, disse.

Ferramenta – Para ajudar na identificação dos itens de risco, a SBD elaborou um quadro para facilitar esse trabalho. Na tabela (ver a seguir), formulada com informações de dezembro de 2019, estão os nomes das substâncias utilizadas em produtos alisantes, conforme descritos nos rótulos de forma padronizada. Ao lado, dos nomes científicos dos principais ativos – proibidos e permitidos no Brasil – aparecem as formas como são citados nas embalagens de alisantes, shampoos e outros cosméticos com a função de “domar as madeixas”. Além disso, está a situação de cada uma junto à Anvisa.

Fiscalização – A dermatologista Bruna Duque-Estrada, assessora do Departamento, frisa ainda que há uma grande quantidade de produtos com substâncias alisantes sendo indevidamente registrados na Anvisa, como shampoos, condicionadores ou outros.

“Há empresas que para burlar a fiscalização lançam shampoos com efeito alisante. Porém, na verdade são alisantes disfarçados e geralmente contém ativos proibidos. Essas substâncias podem causar danos à córnea, queimaduras graves no couro cabeludo, quebra dos fios e queda dos cabelos. Além disso, a aplicação de produtos com adição de formol acima do permitido torna o fio de cabelo rígido, podendo estar mais suscetível à quebra ao pentear e prender os cabelos”, destaca ela.

Sempre que o consumidor identificar shampoo, creme de pentear ou outro produto indevidamente identificado que contenha algum ativo alisante, deve fazer uma denúncia por meio da ouvidoria da Agência: http://portal.anvisa.gov.br/contato.

Orientações – O dermatologista Leonardo Abraham adverte também que alguns salões de beleza inventam os mais diversos nomes ou destacam o termo “sem formol” para os alisamentos, mesmo quando os produtos contêm a substância ou seus derivados escondidos em sua fórmula. “É importante que os clientes verifiquem se o produto usado pelo cabeleireiro tem ou não registro na Anvisa”, alerta.

A Agência listou algumas recomendações que os profissionais e consumidores devem ter antes de comprar ou usar um alisante, dentre as quais estão a conferência no rótulo do produto do modo de uso; prazo de validade, advertências e restrições. Sugere verificar ainda se o produto é indicado para uso profissional, sendo indicado seguir as orientações do fabricante.

Para saber se um alisante de cabelo é registrado na Anvisa, basta clicar aqui. Essa consulta também pode ser realizada aqui. Nesses espaços de consulta online desenvolvidos pela Agência, é preciso ter em mãos uma das seguintes informações: número do processo ou número de registro, nome do produto, nome da empresa detentora do registro ou CNPJ para ter acesso às informações. 

O consumidor que encontrar irregularidades não deve utilizar o produto e poderá entrar em contato com a Vigilância Sanitária Municipal, Estadual ou com a própria Anvisa através do e-mail cosmeticos@anvisa.gov.br. Em caso de suspeita de reações adversas causadas pelo uso de cosméticos, envie o relato para o e-mail cosmetovigilancia@anvisa.gov.br. A Agência também possui um FAQ (Perguntas Frequentes) sobre o uso do formol, cujas respostas podem ser acessadas aqui.


27 de janeiro de 2020 0

JSBD – Ano 23 – N.06 – 01 – DEZEMBRO-FEVEREIRO

Ada Trindade de Almeida
Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia |
Conselho Editorial da Revista Surgical & Cosmetic Dermatology

Os preenchedores faciais são usados há mais de 20 anos. Recentemente, com o aumento na expectativa de vida e a busca por melhora na aparência e no bem-estar, houve uma explosão de sua utilização, principalmente daqueles à base de ácido hialurônico, porque são passíveis de reversão clínica pela hialuronidase. Esse aumento, porém, veio associado ao controle insuficiente dos produtos e dos profissionais injetores, fazendo crescer também o número de complicações, bem como a preocupação com os efeitos adversos, que podem variar de reações alérgicas ao risco de necrose cutânea.

Várias publicações científicas recentes abordam o tema em consensos, algoritmos e estudos retrospectivos, incluindo um Consenso Brasileiro publicado na Surgical & Cosmetic Dermatology, mas o número real de complicações ainda é desconhecido, porque na maioria dos casos a notificação oficial não é feita.

De forma objetiva, Heydenrych e colaboradores (2018) tentaram agrupar medidas preventivas e abordagens de complicações em um plano de dez pontos; Snozzi P. e Van Loghem (2018) limitam-se às complicações, e o Consenso Brasileiro inclui a noção do tempo de ocorrência do evento em seu algoritmo de tratamento.

Os fatores predisponentes das complicações devem ser classificados naqueles relacionados ao paciente, ao produto ou ao procedimento. Entre os relacionados ao paciente estão doenças, medicamentos e procedimentos (médicos, dentários, estéticos) preexistentes. Já os relacionados ao produto injetado incluem pureza, concentração, associações com outras substâncias, técnica de manufatura (nível e tipo de cross link, características reológicas) e reversibilidade (alguns produtos são mais fáceis de serem dissolvidos pela hialuronidase que outros).

E, por fim, existem os fatores relacionados ao procedimento em si. Para um boa execução, é preciso ter conhecimento das características estéticas faciais, das variáveis étnicas, de gênero, do melhor produto para cada plano anatômico, das áreas de risco e saber evitar, reconhecer e tratar as complicações vasculares (oclusões, isquemias, risco de necrose cutânea e até cegueira), inflamatórias (edemas, nódulos, efeito tyndal), infecciosas (abscessos e biofilmes) e discrômicas (hipo e hiperpigmentações, teleangectasias, eritemas persistentes) pós-procedimentos.

Parece fácil? Não é. O grande problema é o aumento de casos de complicações por procedimento realizados por não médicos, que acabam chegando aos nossos consultórios. Para salvaguardar nosso campo de atuação cosmético, o dermatologista precisa aprofundar e atualizar os conhecimentos estéticos e assegurar que a prática diária seja a mais segura possível, começando com a seleção correta de pacientes e produtos, seguida de planejamento cuidadoso do procedimento, observando técnicas assépticas e boas práticas clínicas.

Referências

Urdiales Galves F. Delgado N, Figueiredo V, Lajo-Plaza J et al. Preventing the Complications Associated with the Use of Dermal Fillers in Facial Aesthetic Procedures: An Expert Group Consensus Report. Aesth Plast Surg (2017) 41:667-677.

Trindade de Almeida A, Banegas R; Boggio R; Bravo B; Braz, A; Casabona G; Coimbra D; Espinosa S; Martinez C. Diagnóstico e tratamento dos eventos adversos do ácido hialurônico: recomendações de consenso do painel de especialistas da América Latina. Surgical & Cosmetic Dermatology, 2017; 9(3): 204-213.

Heydenrych I, Kapoor K, De Boulle K, Goodman G, Swift A, Narendra, Rahman E..Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatology, 2018:11 603-611.

Philippe Snozzi P, Van Loghem J, Complication Management following Rejuvenation Procedures with Hyaluronic Acid Fillers − an Algorithm-based Approach. Plast Reconstr Surg Glob Open, 2018; 6:2061.

Chatrath V, Banerjee P, Goodman G, MD, Rahman E. Soft-tissue Filler–associated Blindness: A Systematic Review of Case Reports and Case Series. Plast Reconstr Surg Glob Open, 2019;7:e2173.

 

 

 


27 de janeiro de 2020 0

Apenas uma chapa apresentou-se para assumir a Diretoria Executiva da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), que tomará posse em janeiro do ano que vem. Aprovada na Reunião do Conselho Deliberativo da SBD, durante o 74º Congresso Brasileiro de Dermatologia, no Rio de Janeiro, a chapa candidata representará a sociedade médica entre 2021 e 2022. 

Os candidatos são: o presidente Mauro Enokihara (SP); vice-presidente Heitor de Sá Gonçalves (CE); secretária-geral Cláudia Alcântara (RJ); tesoureiro Carlos Barcaui (RJ); primeiro secretário Geraldo Magela (MG); e segundo secretário Beni Grinblat (SP). 

As eleições ocorrem no dia 18 de abril.

Clique aqui e acesse o edital.

Em breve, mais informações serão disponibilizadas.
 


24 de janeiro de 2020 0

O Brasil ocupa o segundo lugar mundial em número de casos de hanseníase, perdendo apenas para a Índia. Pesquisa feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que em 2017, enquanto o Brasil teve 26.875 casos, a Índia teve 126.164. Na última década, foram registrados cerca de 30 mil casos novos por ano no Brasil.

O pico da doença no território brasileiro foi observado em 2003, com 51.941 casos. Por isso, em 2016, o Ministério da Saúde oficializou o mês de janeiro e consolidou a cor roxa para campanhas educativas sobre a doença no país.

A coordenadora da Campanha Nacional de Hanseníase da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Sandra Durães, disse hoje (23) à Agência Brasil que a hanseníase é uma doença que acomete as populações negligenciadas, com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta. Embora o Brasil esteja entre as maiores potências econômicas, ainda apresenta grandes desigualdades e muitos bolsões de pobreza em áreas periféricas. “Isso também se demonstra pela incidência desigual no país”. O maior número de casos ocorre nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, enquanto o Sudeste e o Sul ocupam os quarto e quinto lugares, respectivamente.

Sandra Durães explicou que a hanseníase não afeta somente populações vulneráveis. Pessoas de níveis econômicos elevados também estão sujeitos a ter a doença. “Mas a maioria ocorre em populações de nível socioeconômico mais baixo”.

Características
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa causada por uma bactéria (Mycobacterium leprae) que apresenta características peculiares, afirmou a médica. Uma delas é que todos os brasileiros, por morarem em um país endêmico, têm contato com ela ao longo da vida. “Ela tem alto poder de infectar mas, por outro lado, a maioria das pessoas é muito resistente à doença. Então, um pequeno percentual das pessoas é que pode realmente ficar doente com a hanseníase”.

Também dentro desse pequeno percentual, a apresentação clínica vai variar conforme a resistência que a pessoa tenha à doença. As pessoas mais resistentes mostram formas mais brandas. Segundo a especialista, o bacilo da hanseníase apresenta grande afinidade com dois órgãos: a pele e os nervos periféricos. O sistema nervoso periférico se refere às partes que estão fora do sistema nervoso central, isto é, fora do cérebro e da medula espinhal.

“A pessoa que tem mais resistência vai apresentar poucas lesões na pele, vai ter uma carga bacilar mais baixa, com pouco ou nenhum poder para contaminar outras pessoas e terá um tratamento mais rápido, em seis meses”. Já nas pessoas que têm menos resistência, a doença vai se apresentar de forma mais disseminada na pele, vai atingir os nervos periféricas, vai ter alta carga bacilar e maior capacidade de contaminar outras pessoas. Além disso, o tratamento é mais longo, por 12 meses.

Contaminação
A hanseníase é passada de uma pessoa que tenha uma forma transmissível da doença e não esteja em tratamento, para outra pessoa. “Essa doença é passada pela via respiratória. Respirando naquele mesmo ambiente, você tem mais risco de pegar. Geralmente em ambientes pouco ventilados e aglomerados, a pessoa tem mais risco de pegar”. Não tem a ver com higiene, esclareceu a médica.

Uma curiosidade que dificulta o controle da doença é que a incubação longa. Isso significa que a partir do momento em que a pessoa entra em contato com a bactéria, só vai ficar doente cerca de sete a oito anos após. A hanseníase se manifesta na pele pelo aparecimento de manchas brancas ou vermelhas e de lesões vermelhas altas denominadas placas ou infiltrações. Essas lesões se caracterizam por terem a perda da sensibilidade, porque a bactéria tem uma afinidade grande pelos nervos periféricos.

“A pessoa vai perder a sensibilidade das lesões. Além disso, pode apresentar sensação de nariz entupido, ardência nos olhos e ter dormência nas extremidades, ou seja, nas mãos e pés”, explicou.

Estigma
Sandra Durães explicou que havia muito estigma e preconceito contra a hanseníase no passado porque o tratamento não era tão eficaz. Na evolução da doença, o acometimento do nervo periférico faz com que a pessoa tenha alterações motoras e perca a noção de quente ou gelado, por exemplo. “Ela vai se lesionar no ambiente, vai ter infecção na pele que pode se transmitir ao osso e pode haver perda de tecidos, como ocorria no passado”. Atualmente, isso é muito raro, porque o tratamento é eficaz.

O diagnóstico precoce é muito importante e crucial para o controle da doença, explicou Sandra. Se a pessoa procurar logo atendimento médico r tomar o antibiótico ela fica bem. Mas se o paciente deixa a hanseníase evoluir, os antibióticos não têm o poder de reverter o dano neural. As manchas vão diminuir, o doente não vai contaminar mais pessoas, a doença vai ficar estacionada, mas o dano neural que houve até aquele momento não será mais revertido. Essa pessoa vai exigir orientação e acompanhamento de uma equipe de neurologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais para poder atuar no seu meio ambiente sem se lesionar para não ficar incapacitado.

“O ideal, disse a dermatologista, é que o diagnóstico seja feito em uma fase bem precoce em que ainda não haja o dano neural”. Com diagnóstico e tratamentos tardios, há risco de graves sequelas, como deformidades e incapacidades físicas irreversíveis.

Desconhecimento
As pessoas ainda têm grande desconhecimento da hanseníase, também conhecida como lepra. Daí o Ministério da Saúde promoveu a campanha Janeiro Roxo para chamar a atenção da população para o problema e informar que hoje o tratamento é supereficaz. Não há necessidade de a pessoa ficar reclusa, como ocorria com os antigos portadores de lepra, ou leprosos, que eram isolados compulsoriamente do restante da população.

Sandra Durães assegurou que a partir do momento em que a pessoa inicia o tratamento, tomando a primeira dose do antibiótico, ela praticamente deixa de ser contagiante. “As pessoas fazem o tratamento em casa, vão ao ambulatório uma vez por mês tomar medicamento e tomam outros remédios em casa”. O tratamento é gratuito e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o território nacional.

Para o controle da doença é importante também que as pessoas que tiveram contato mais próximo com o paciente sejam examinadas para ver se apresentam alguma lesão que não foi ainda percebida. “Se têm lesão, vão ser tratados; se não têm (lesão), recebem uma dose da vacina BCG (vacina frequentemente administrada para prevenção da tuberculose, obtida pela preparação da bactéria Mycobacterium bovis em estado atenuado)”.

A vacina BCG provoca uma resposta de defesa do organismo. Sandra Durães informou, por outro lado, que essa vacina não impede que a pessoa tenha tuberculose ou hanseníase, mas dificilmente ela terá formas graves das duas doenças. Atualmente, a BCG é dada para todos os bebês na maternidade. Na década de 1990 a 2000, o governo brasileiro fez a segunda dose da BCG que não atua no caso da tuberculose, mas protege a saúde da pessoa, no caso da hanseníase.

A doença pode afetar pessoas de qualquer idade e sexo. Sandra destacou que a partir do momento em que ela toma a primeira dose do remédio, ela deixa de ser contagiante. “Não precisa separar talher, mudar de casa. Pode namorar, não tem problema nenhum”.

Descentralização
Embora o dermatologista seja o profissional que sempre esteve mais envolvido com a doença, em função dos problemas ocorridos na pele do paciente, nos últimos anos, a Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde resolveram fazer uma descentralização da assistência da doença. Por isso, os dermatologistas da SBD trabalharam na última década para capacitar as equipes de saúde da família da atenção básica. Por isso, atualmente, 70% dos diagnósticos são feitos na atenção básica por clínico geral, por médico da família. Os casos com dificuldade maior de diagnóstico exigem exames laboratoriais complementares, como a biópsia da pele, por exemplo e, raramente, a biópsia do nervo, nos casos em que não aparecem manchas na pele. Pode ser necessário ainda fazer o exame de baciloscopia, que corresponde à coleta da serosidade cutânea, colhida em orelhas, cotovelos e da lesão de pele.

A campanha Janeiro Roxo se estenderá até o final do mês, com ações educativas e divulgação, pela mídia, dos sinais e sintomas da hanseníase que ainda são parcialmente desconhecidos por grande parte da população. O primeiro mês do ano é dedicado à conscientização, combate e prevenção da hanseníase.

Os doentes de hanseníase sempre foram objeto de preconceito. Na Idade Média, eram obrigados a carregar um sino para anunciar sua presença. Até pouco tempo atrás, o isolamento compulsório para separar os pacientes do restante da população era prática comum no Brasil. Parentes eram separados e ficavam anos sem se ver por conta dessa política pública.

Fonte: Agência Brasil – EBC


23 de janeiro de 2020 0

O associado que se inscrever no 13º Simpósio de Cosmiatria, Laser e Tecnologias da SBD e 6º Simpósio de Cosmiatria & Tecnologias da RESP até o dia *26 de fevereiro* pagará o valor da primeira tabela. Após essa data, as inscrições serão aceitas apenas no local do evento. A decisão foi tomada em conjunto com a SBD-RESP.

Lembrando que os valores para inscrição vêm sendo reduzidas progressivamente desde 2015. Este ano, houve nova redução em relação às taxas aplicadas ano passado.

Além de oferecer as melhores condições financeiras e administrativas aos associados, a iniciativa da gestão também visa estimular a atualização médica sobre cosmiatria, laser e outras tecnologias.

Aproveite essa oportunidade, acesse a programação e inscreva-se já: https://www.sbd.org.br/evento/13-simposio-de-cosmiatria-e-laser-6-simposio-de-cosmiatria-tecnologias//inscricao.aspx.

 

 


21 de janeiro de 2020 0

Todos os anos, cerca de 30 mil pessoas desenvolvem hanseníase no Brasil. A doença tem cura, mas o diagnóstico precoce é muito importante e o tratamento deve ser iniciado o quanto antes para evitar deformidades e sequelas neurológicas no paciente.

O médico dermatologista Carlos Eduardo de Mathias explica as formas de transmissão e tratamentos disponíveis para a hanseníase no programa Balanço Geral, da TV Record filial São José do Rio Preto. Clique na imagem para assistir a íntegra da matéria.





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